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A Mulher na Maçonaria
Aqui temos perguntas que poucos maçons sabem responder convincentemente. É generalizada a noção de que a Mulher não pode fazer parte da Maçonaria...
Em 14 de janeiro de 1882, no decorrer da iniciação da Senhora Marie Deraismes, o Venerável Mestre declara: Ao iniciar uma Mulher em nossos mistérios, desejamos proclamar a igualdade dos dois seres humanos que concorrem fisicamente para a propagação de nossa espécie; ... estamos convencidos de que o estado moral da sociedade não pode, efetivamente, melhorar sem o concurso da mulher, primeira educadora da criança e que destruir os preconceitos, combatendo-os com a luz, é preparar, pacificamente, a verdadeira emancipação social. (Fonte: As Grandes Iniciadas – Biblioteca Amorc).
Por que não “abrir o jogo - por as cartas na mesa”, reconhecer e não esconder a existência da Maçonaria Masculina, Mista e Feminina. As três adotam os mesmos princípios, a mesma filosofia; todas possuem suas estruturas e cúpulas administrativas, porém a masculina ainda não foi capaz de absorver e aceitar a existência das outras duas e se não as hostiliza também nada faz para favorecer o seu desenvolvimento. Silêncio total a respeito e esse silêncio alimenta a crença popular, até entre as esposas de maçons, que a Mulher não tem acesso aos seus Templos. Existe, todavia, uma enorme barreira a ser superada ... (Roberto Schukste – Mestre Maçom).
 
Proibir a Iniciação e participação da mulher em Loja Maçônica é um retrocesso na evolução humana, ao contrário das Ordens Maçônicas tradicionais sujeitas aos dogmas da Grande Loja da Inglaterra, repudiamos energicamente o Landmark nº 18, cujo texto, datado de 1723, literalmente proíbe o ingresso na Maçonaria "de escravos, mulheres e aleijados".
 
A Tríade Maçônica é Liberdade, Igualdade e Fraternidade, assim, entendemos que este Landmark se constitui numa flagrante contradição com os nossos princípios sempre propugnados pela Maçonaria Universal; é, além disso, um modo cruel e vergonhoso de qualificar seres humanos e determinar arbitrariamente quem tem e quem não tem direito à Iniciação.
Um Maçom instruído, não importa a qual das Potências Maçônicas do mundo esteja vinculado, perceberá que este Landmark, além de ilegal, é frontalmente contrário a tudo que prometemos durante o Ritual de Iniciação: o universalismo de pensamento, a liberdade de consciência, a luta contra a tirania, a superstição, o dogmatismo, o fanatismo e a discriminação, além do respeito às Leis Justas de nosso país.
 
Decorridos quase 300 anos, o mundo evoluiu consideravelmente, tanto em termos materiais como espirituais e filosóficos. A mulher, por outro lado, deu sobejas provas de que pode ser tão competente quanto qualquer homem, em qualquer atividade – mesmo naquelas que requeiram coragem e resistência física; neste século, ela alcançou, por seu próprio mérito, sensibilidade e inteligência, as mais elevadas posições sociais, políticas, científicas, técnicas, esportivas, militares e intelectuais na sociedade humana. A discriminação de que a mulher ainda é objeto no Brasil, para fins de ingresso na Ordem, é absolutamente ilógica, ilegal, contrária à História e ao Progresso, e tem raízes numa educação arcaica e no mais desprezível e vulgar preconceito.
A Maçonaria se orgulha – com justa razão – dos movimentos e conquistas históricas dos quais participou e proclama os méritos de seus mártires e heróis.  Giuseppe Garibaldi foi um deles, tido como o herói de dois mundos, lutando pela unificação italiana e nas lides revolucionárias da América Latina. Ele foi filiado a Lojas Maçônicas Mistas, sob o Rito de Memphis-Misraim, e também fez iniciar sua esposa e companheira, a brasileira Anita Garibaldi.
Garibaldi, quando Soberano Comendador Grão Mestre da Maçonaria em Palermo, a 25 de maio de 1864, decidiu fundar para o bem da Maçonaria italiana, Lojas Maçônicas Femininas, que na prática eram Mistas, já que os irmãos participavam normalmente de seus trabalhos. Em seus Placets, constam as Iniciações de sua filha Teresita e de Luigia Candia, esposa do irmão do Grau 33º Paulo de Michelis. Estes não foram fatos isolados, já que em 1867 o General Grão Mestre concedia o Placet de Exaltação a Mestre Maçom à senhora Suzanna Helena Curruthres.
Oswald Wirth, notável ocultista, maçom, astrólogo, alquimista e hermetista, cujos símbolos decoram Lojas no mundo inteiro, (e todas no Brasil) e cujas Instruções profundas são um precioso tesouro para os estudos de todo Mestre Maçom, foi membro de Lojas Mistas no Chile. Simón Bolívar, o grande Libertador da América, era membro de Lojas Lautarinas – Mista; ele igualmente fez iniciar sua companheira Manuela de Sáenz.
Aldo Lavagnini, o popular Magister das nossas Instruções Simbólicas e Filosóficas, também foi filiado a Lojas Mistas. A lista é longa e contém honrados nomes da História do mundo!
 
Em Trabalho apresentado no V Congresso Maçônico Internacional de História e Geografia, promovido no Rio de Janeiro, nos dias 9, 10 e 11 de março de 1990, pela Academia Maçônica Brasileira de Letras, Vera Facciollo, Grã Mestre de uma Organização Maçônica Mista no Brasil, relembra que é bastante conhecido o episódio da iniciação da Srta. Marie Deraismes na Loja Libres Penseurs, dependente do Grande Oriente da França, em 1882, em cerimônia presidida pelo Venerável George Martin.
Essa cerimônia é considerada uma espécie de marco inicial de um movimento progressista e renovador que culminou com a fundação do que se chamou Grande Loja da Maçonaria Simbólica Escocesa "Le Droit Humain" (hoje Ordem Maçônica Mista Internacional "Le Droit Humain"). Posteriormente expandiu-se para um Supremo Conselho Internacional, com sede em Paris. Atualmente está estabelecida em muitos países, onde mantém Federações de Lojas com governo próprio, mas sob a jurisdição do mesmo Supremo Conselho.
A primeira Loja na Inglaterra, como fruto dessa semente, foi fundada em 1902, em Londres, sob o nome Human Duty, e a primeira no Brasil foi instalada em 1919, no Rio de Janeiro, com o nome de Loja Isis.
Menos conhecido, entretanto, é o fato de que, já em 1775, foi eleita a Duquesa de Bourbon Grã Mestra (Venerável) da Loja Santo Antônio, na França, possivelmente sob a inspiração e com a participação do conde Cagliostro, uma figura estranha e controvertida, com certeza vítima de perseguição e calúnia (conforme foi descoberto em pesquisa direta do processo pelo Irmão Franz Hartmann) . Mas era indiscutivelmente um defensor da presença feminina nas iniciações, conforme prova a criação por ele, em 1786, na cidade de Lyon, do Rito Egípcio da Maçonaria Andrógina, cuja primeira mestre Honorária foi a princesa Lamballe. Em 1786, na Rússia, a Imperatriz Catarina II presidia a Loja Clio.
 
Entretanto, nenhum maçom culto pode negar que historicamente a Maçonaria é muito anterior ao século XVIII. E houve sempre mulheres participando dos antigos ritos, desde o velho Egito. Existe um mural bastante reproduzido atualmente, que retrata a recepção de um Adepto Osiriano, que está na postura exata do grau de Companheiro, numa cerimônia presidida por uma sacerdotisa.
Segundo Gervásio de Figueiredo, autor de um dos mais conceituados Dicionários de Maçonaria: "Se remontarmos a origem da Ordem aos antigos mistérios do Egito, Grécia e Roma, sem esquecer a escola de Pitágoras, fundada em Crotona em 529 ªC., calcada nesses mistérios, e depois difundida pela Grécia, ali encontramos iniciados homens e mulheres, passando todos igualmente pelas mesmas provas e cerimônias"...
 
"Se, porém, preferirmos encurtar a idade da Maçonaria e situar sua origem nas Corporações Operativas da Idade Média, se então nada descobrimos expresso claramente a favor dessa tese, também nada deparamos contra."... "Há provas de que a Maçonaria Operativa daquela época tinha no mínimo a colaboração feminina. Num documento datado de 1390, em forma de versos, lê-se no art. 10, versos 203 e 204: "que nenhum mestre suplante outro, senão que procedam entre si como IRMÃO E IRMÃ"...
Assim, realmente, a primeira vez que surge a proibição à iniciação da mulher na maçonaria, é no Livro das Constituições, compilado e publicado em 1723 por James Anderson, presbítero anglicano e Grande Vigilante da Grande Loja de Londres – repetida mais tarde no Landmark nº 18 compilado por Mackey em sua Enciclopédia – e que acrescenta as mulheres à mesma categoria dos escravos e dos aleijados para fins de ingresso na Ordem.
Tal proibição, no entanto, não impediu em nada, como se vê, o crescimento das Lojas Mistas ou Femininas e não intimidou os homens de visão em todo o mundo, que não só participaram e freqüentaram tais Lojas, como estimularam e promoveram a fundação de muitas delas. Exemplo disso foi um maçom tão conceituado como Oswald Wirth, sob cuja orientação se faz hoje boa parte da decoração de nossos Templos: ele pertencia e foi fundador de diversas Lojas Mistas no Chile, conforme nos atesta o Ex- Soberano Grande Comendador do Grau 33 da Grande Loja Mista do Chile, nosso ilustre nonagenário Irmão Luís Brucher Encina (hoje falecido), que foi seu contemporâneo e companheiro nas lutas maçônicas desse país.
 
Mas, vejamos como foi que a mulher entrou na Ordem Maçônica no Brasil. Homens de uma extraordinária visão e cultura universal dirigiam os destinos dos então existentes Grande Oriente do Lavradio e Grande Oriente dos Beneditinos. Homens do porte de um Visconde do Rio Branco e Joaquim Saldanha Marinho. A Monarquia agonizava e a Maçonaria lutava em duas frentes: a abolição da escravatura e a preparação da República. Um vento de reformas e mudanças soprava em nosso País. E na província de São Paulo, berço da Independência do Brasil, um fato inédito ocorreu aos 14 dias de janeiro de 1871: um grupo de homens fundou uma loja de mulheres.
A Loja recebeu a designação significativa de 7 de Setembro, foi desde o início uma Loja Capitular e sua primeira Grã Mestra (Venerável) foi a Sra. D. Francisca Carolina de Carvalho, sendo Secretária a Sra. Philadelpha Maria de Oliveira Paes, e Oradora a Sra. Constantina Augusta de Oliveira Campos.
Os fundadores da Loja eram irmãos pertencentes ao quadro das Oficinas Amizade, 7 de Setembro e América, do Grande Oriente dos Beneditinos, mais tarde unido ao Grande Oriente Unido do Lavradio, cuja fusão em 1872 deu origem ao Gr:. Or:. Unido e Supremo Conselho do Brasil.
Em 10 de julho de 1872, a Augusta e Respeitável Loja Capitular 7 de Setembro recebeu uma Comissão de Regularização que, em nome do Grande Oriente Unido do Brasil, concedeu o Breve Constitutivo, em obediência a um decreto de 15 de dezembro de 1871. O presidente da Comissão foi o Venerável da Augusta Respeitável Loja Capitular Amizade, o Ilustre Irmão Dr. Joaquim Augusto de Camargo.
A título de Estatutos da "Loja de Adopção", constam dos Anais de 1871 a 74 da Augusta Beneficente e Respeitável Loja Capitular 7 de Setembro, sob os auspícios do Grande Oriente Unido do Brasil, as dispensações regulamentares mandadas observar provisoriamente pelo Grande Inspetor Geral do Grau 33, Antônio Egydio de Moraes.
Em sessão econômica de 20 de abril de 1871, era profana, foi concedido ao Respeitável Irmão João Baptista Paes o título de Membro Honorário. Diz a Carta: "A muito Augusta e Respeitável Loja de Adopção 7 de Setembro, tendo na devida consideração vosso reconhecido mérito, serviços e mais qualidades que vos adornam, como sinal e prova da sua apreciação e reconhecimento do quanto vos deve como um dos fundadores desta Loja de Senhoras, a primeira em o nosso País ... resolveu conferir-vos o título de Membro Honorário desta Associação Maçônica..." etc.
Os discursos proferidos por ocasião do Ato de Regularização foram mandados distribuir entre os Irmãos e Irmãs. O discurso do presidente da Comissão de Regularização menciona em seu início: "Os Supremos Poderes da Maçonaria no Brasil, por decreto de 15 de dezembro de 1871, aprovaram a instalação de vossa Oficina, ... AUTORIZANDO A FUNDAÇÃO DE LOJAS DA MAÇONARIA DE ADOPÇÃO NO CÍRCULO DO GRANDE ORIENTE, e pelo breve Constitutivo que vos concede faz certa a vossa emancipação, vossa independência, MANDANDO INCORPORAR VOSSA LOJA NO GRANDE QUADRO DA MAÇONARIA E CONFERINDO-VOS IGUAIS DIREITOS E ATRIBUIÇÕES AOS DAS OFICINAS DE SEU CÍRCULO". E prossegue ele: "ESTÃO POIS NO VOSSO DOMÍNIO TODOS OS SEGREDOS DA MAÇONARIA, TODOS OS SEUS MISTÉRIOS; cuidai deles, sois o mais precioso sacrário de tudo quanto a Maçonaria possui".
 
O Ilustre Irmão Kurt Prober em seu Cadastro Geral das Lojas Maçônicas do Brasil, nos dá conta que essa Loja 7 de Setembro possuía no Cadastro do Grande Oriente Unido, em 1875, o nº 134, e que em 1878 a Loja era dirigida pela mesma Sra. D. Francisca Carolina de Carvalho, sendo Secretária a Sra. D. Guilhermina de Oliveira Campos. O autor nos dá como DESAPARECIDA a Loja antes de 1882. Não há aparentemente qualquer outro documento da mesma, que relate como foi que isso aconteceu.
O Cadastro de Kurt Prober nos mostra a relação completa das Lojas Femininas fundadas sob a jurisdição do Grande Oriente, seus respectivos números de registro e datas de concessão das Cartas (ou Breves) Constitutivas. São nove ao todo, além da supra-mencionada 7 de Setembro, fundadas entre os anos de 1874 e 1903: Anita Bocayuva, em Campos, Rio de Janeiro; Estrela Fluminense, no Rio de Janeiro; Filhas da Acácia, em Curitiba, Paraná; Filhas de Hiram, em Juiz de Fora, Minas Gerais; Filhas do Progresso, no Rio de Janeiro; Fraternidade, em Bagé, Rio Grande do Sul; Julia Valadares, em São João da Barra, Rio de Janeiro; Perseverança, em Ouro Preto, Minas Gerais; e Theodora, em Barra de Itapemirim, Espírito Santo. Delas, uma foi dissolvida, uma foi eliminada pela Ordem, três outras desapareceram, uma ainda teve seu pedido de regularização indeferido e as três restantes foram sumariamente extintas e suas Cartas Constitutivas cassadas por ato do Grão Mestre Quintino Bocayuva em 25 de setembro de 1903.
Hoje em dia, existem diversas lojas femininas ou mistas por todo o Brasil, que operam de forma independente, ou filiadas a uma potência própria. Adotam ritos idênticos aos das Lojas masculinas e recebem, com gratificante freqüência, a visita de irmãos de todos os Orientes, quando então são revividos com todo o esplendor e beleza as cerimônias que realizavam os antigos maçons do Egito, da Grécia, da Pérsia, de Roma e da Idade Média na Europa.
 
Observação: Os dados históricos sobre as Lojas Femininas no Brasil, federadas ao Grande Oriente do Brasil, foram colhidos diretamente das suas Atas, e do livro publicado à ocasião da fundação da Augusta e Respeitável Loja Capitular 7 de Setembro, ao Vale de Tabatingüera, 18 - livro este contendo os discursos proferidos na festiva data. Os arquivos e documentos mencionados se encontram no Museu do Grande Oriente do Brasil em São Paulo, Rua São Joaquim nº 457. Outras informações foram obtidas no Cadastro de Lojas Maçônicas do Brasil, de autoria de Kurt Prober.

 

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