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Renovando atitudes

 

Na Maçonaria estamos sempre falando de situações e fatos que temos em comum: “o nosso irmão”, “a nossa Loja”, “ a fraternidade”, “ a irmandade”, e por aí afora, muitos são os elos que nos unem.
 
E sempre procuramos realçar essas situações, porque isso é um fator que nos agrega, que nos torna diferentes das demais pessoas. Nos dá unidade.
 
E é disso que precisamos para bem viver em sociedade.
 
Outro dia, minha filha que trabalha comigo e que já presenciou vários irmãos me visitando, disse que os maçons quando se encontram, os olhos brilham num misto de respeito e admiração. Achei interessante o comentário, que traduziu a visão de uma espectadora do nosso mundo maçônico. E vou confessar a vocês, que eu gostei muito de ter ouvido isso dela. Mais que um comentário, foi uma constatação, de que somos um seleto grupo de pessoas, único e diferenciado.

Repetindo, é disso que precisamos para bem viver em sociedade.

Mas infelizmente, não é só isso. Somos unânimes em destacar os pontos que nos unem, nossas bandeiras: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, essa nossa fortaleza!
 
Mas será damos o mesmo tratamento quando o que está em questão são as nossas diferenças? Sabemos nós conviver com elas? Ao olharmos o centro de nosso Templo conseguimos apreender as lições do pavimento mosaico?
 
Por que é tão difícil assim?
 
Por que aqueles que tanto se amam, tem tanta dificuldade em transpor certas barreiras do relacionamento humano, do relacionamento social.
 
Saber ouvir, saber falar. Como poderia ser mais simples...

Mas como buscar o entendimento?
 
Por mais que eu fale, explique e insista, porque certas pessoas não concordam comigo?
 
Prestem muita atenção meus irmãos, isso é muito importante. Vamos lá.
Em primeiro lugar, não devemos impor aos outros o constrangimento de convencê-los à nossa realidade, como se nossa maneira de traduzir a vida fosse a melhor, nem achar que a verdade é propriedade única, e que somente coubesse a nós a posse exclusiva desse patrimônio.
Segundo: Muitas vezes, a titulo de aconselhar melhores opções e diretrizes, no sentido de esclarecer e priorizar a seleção e atitudes dos outros, que, na verdade caberia a eles próprios desempenhar, nós extrapolamos nossas reais funções e limites, transformando o que poderia ser esclarecimento e orientação em abuso e ocupação indevida dos valores e domínios dos outros.
Vou repetir:
Muitas vezes, a titulo de aconselhar melhores opções e diretrizes, no sentido de esclarecer e priorizar a seleção e atitudes dos outros, que, na verdade caberia a eles próprios desempenhar, nós extrapolamos nossas reais funções e limites, transformando o que poderia ser esclarecimento e orientação em abuso e ocupação indevida dos valores e domínios dos outros.
Essa nossa postura, a percebemos logo que temos nossos filhos. Quando pela primeira vez teremos a oportunidade de criar, de formar um ser especial, diferenciado, sem as amarras que tanto nos diminuíram no passado e que deixaram marcas que hoje, adultos, ainda tentamos fazer cicatrizar.

E sem que percebamos, sentimos necessidades de “corrigir” opiniões, “indicar” caminhos, “induzir” experiências, privando-as de exercer opiniões e de vivenciar suas próprias experiências. Ao deixá-las cair e se levantar, amar e sofrer, estamos, ao contrario, permitindo que elas mesmas possam angariar seus próprios conhecimentos e, dessa forma, estruturar sua maturação e crescimento pessoal.
Meus irmãos, prestem atenção, a Vida tem inúmeras vias de inspiração e revelação, a fim de conduzir as pessoas a seu próprio desenvolvimento; portanto, não devemos nos assumir como autoridade indispensáveis ao crescimento de todos, como se fossemos dignitários divinos.
Nossas opiniões e idéias devem ser lançadas como sementes, sem a pretensão de aplausos e reconhecimentos, mesmo porque talvez não haja florescimento imediato, seja pela aridez da terra, seja por inconsistência, seja pelo simples fato dela não prevalecer. Por maior que tenha sido nossa excepcional boa intenção.
Percebam, o mínimo que seria plausível e plenamente aceito, na convivência daqueles que se dizem diferenciados é que na terra fértil dos sentimentos humanos sempre haverá o dia em que o campo produzirá a colheita da aceitação da opinião diversa.

Isso é muito importante: Ao aceitarmos as pessoas como indivíduos de personalidade própria, respeitando suas opiniões, idéias e conceitos, até mesmos seus preconceitos, estaremos dando a elas um fundamental apoio para que escutem o que temos para dizer ou esclarecer, deixando depois que elas mesmas, conforme lhes convier, mudem ou não suas diretrizes vivenciais.
Muitas vezes, ou com um orgulho bastante enraizado, ou apenas com a intenção de estar prestando um serviço, esperamos louros dourados de consideração e o entendimento de todos os que nos escutam, e que tenhamos nossas intenções amplamente compreendidas.
Mas nem sempre é assim que acontece. Daí a desarmonia.

Prestem atenção: Muitos de nós somos intransigentes e rigorosos e ao invés de entender, impomos; ao invés de ensinar, pregamos; ao invés de amar, manipulamos; ao invés de respeitar, criticamos; e por não usar de sinceridade é que fazemos o gênero de “suposta santidade”.
Aquele que fala tem um peso considerável na questão entendimento.

Mas até então, estamos tentando retratar os conflitos e sentimentos de um interlocutor. Mas um relacionamento para existir precisa de pelo menos dois.
Muito bem, se existe o que fala, existe o que ouve. Se terminasse por aí teríamos menos conflitos, o assunto morreria logo. Mas não. Na realidade temos aquele que pensa primeiro (deveria pelo menos) e depois fala, e existe o outro que ouve, pensa e também fala e assim sucessivamente.
Ouve, pensa e fala.
Enquanto o assunto passar por relatos de situações vividas ou imaginadas, histórias e outros tipos de amenidades, temos a conversa.

Quando o assunto passa a ser sobre opiniões a cerca de fatos ou situações, temos a discussão.
Se a conversa é passiva, a discussão é ativa. Se uma é relaxante a outra é revigorante.
Mas o mais importante é que o foco nunca pode ser perdido.

O que se deve discutir são idéias, posições, e não individualidades.

Temos que ter em mente, que aquele adulto que está a nossa frente, falando coisas que diferem do nosso ponto de vista, por quaisquer que sejam as razões, é alguém com uma historia de vida, muitas vezes com mulher e filhos, que assim como os nossos ficam doentes e precisam de atenção, alguém com sucessos e derrotas, que acorda cedo e vai à luta e com bons propósitos, ou seja, alguém exatamente como nós.
Só que pensa diferente.
Alheio ou indiferente ao fato de estar certo ou errado, o que esse nosso interlocutor deve merecer de nós, no mínimo, na pior das hipóteses, é a nossa não concordância. Apenas isso, nada mais que isso.
Não devemos cair na tentação de julgar o outro, por maior que seja a diferença entre nossas maneiras de pensar. Coloquemos-nos no lugar do outro, como gostaríamos de ser entendidos? Gostaríamos ser tratados com respeito?

Eu posso entender que você não pensa como eu, e até aceitar esse fato sem o menor constrangimento. O que é difícil de engolir é ser tachado disso ou daquilo, apenas pelo fato de não pensarmos igualmente.
 isso que aprendemos na Maçonaria. São ensinamentos como esse que nos torna diferenciados.
Somos pensadores, buscamos a verdade, somos homens livres. Livres para pensar, para falar, para ouvir, Para concordar e para discordar

“Não concordo, mas quero ouvir até onde vai sua idéia.”

O dicionário dá como sinônimo de discutir as seguintes palavras: debater e contender, que são termos relativos à briga, disputa, rivalidade, ou seja, ou você ou eu. Vencedores e vencidos. Um ganha outro perde.
Diz ainda o mesmo dicionário, que discutir, também quer dizer: questionar, examinar, que são termos que induzem à investigação, observação. Ou seja, considerar, inquirir e estudar.

Que dualidade. Olha aí o pavimento mosaico. Nem parece que estamos tratando da mesma palavra.
Se por um lado afasta, repele, por outro agrega, une.

E para encerrar, meus irmãos, uma historinha bem simples, e que deve ser do conhecimento de vários: Todos temos dentro de nós, dois animais. Um é bondoso, fraterno, que busca o entendimento, e só procura ver o lado bom das coisas. O outro, ao contrario, é vingativo, rancoroso, ferino, maledicente e sempre procura criar intriga.
Você quer saber qual é o que prevalece? Aquele que você alimentar.

Autoria do Eminente Irmão Clóvis, Delegado do Rito Brasileiro em Santa Catarina, Mestre Instalado da Loja "União e Prosperidade", GOB-SC