Pedras Polidas Mas Sempre Brutas!!!

 

PEDRAS POLIDAS, MAS SEMPRE BRUTAS!
Ir.'. Marco Antonio Nunes - Florianópolis SC
Quando Aprendiz, por ocasião das primeiras instruções, fixei-me muito no significado da Pedra, muito representativa dentre as inúmeras simbologias que nos são passadas no início da nossa jornada maçônica. Tanto assim, que idealizei este diálogo entre um Aprendiz e um Mestre versando justamente sobre as infindáveis divagações e interpretações que a nossa imaginação pode nos levar sobre um símbolo tão significativo como é a Pedra:
Apr.'. - Mestre, por que somos comparados a pedras?
MM.'. - Comparados não seria o termo adequado. Ingressastes na Ordem recentemente e não tens ainda a noção do que representam as pedras na Maçonaria e os demais símbolos, que não são poucos. Tudo é uma questão de associação de pensamentos filosóficos, dentro de um contexto simbólico. Se formos nos comparar a pedras, como fazes alusão na tua pergunta, poderíamos partir para uma série de infindáveis digressões e todas elas chegariam a significados admissíveis, caso partilharmos o mesmo ponto de vista. Ao contrário, divergindo em qualquer aspecto, já não teríamos uma comparação plausível e partiríamos para novas digressões até encontrarmos outro ponto de convergência.
Apr.'. - Mas se não somos comparados, por que então alguns mestres falam que nós, aprendizes, somos pedras brutas que devem ser lapidadas?
MM.'. - É uma forma de utilizar a simbologia, muito forte na Maçonaria, notadamente nos graus simbólicos. Quando galgares os demais graus, irás entender melhor e chegarás a conclusões próprias que melhor forem do teu entendimento e te adaptarás à tua forma de pensar e de interpretar todas as questões simbólicas. Quanto à comparação aprendiz/pedra bruta, estaria mal formulada, tendo em vista que a comparação não é propriamente feita com a pessoa do aprendiz, mas com a condição de neófito na sua nova dimensão de conhecimento e aprendizado, para o qual foi iniciado.
Sua formação maçónica começou justamente na iniciação, onde foram transmitidas inúmeras informações. Se tivesses prestado atenção em tudo quanto aconteceu e te foi dito, perceberias que toda a tua futura vida maçónica foi ali reproduzida. Só que as informações foram tantas, quase todas elas direcionadas somente para o teu sentido auditivo, já que teus demais sentidos estavam todos concentrados na expectativa e na aflição da nova experiência que, aos poucos, tua memória irá trabalhar esse mundo novo que foi descortinado e que, à medida que fores tomando ciência e absorvendo esses ensinamentos, irás perceber que as lascas impuras da ignorância irão dar lugar à polidez do conhecimento já latente nas tuas experiências pessoais e de outras vidas.
Apr.'. - Insinuas que a gente nasce sábio e necessita de estímulo para aflorar essa sabedoria?
MM.'. - Grande parte de nós, sim. A crosta que envolve a polidez da nossa pedra pode ser mais ou menos espessa, dependendo da planificação da missão engendrada com nossos mentores antes de assumirmos a nova jornada. Assim como a polidez interna, ainda não perfeita, que pode receber novos acabamentos, após o desbaste da crosta que a envolve.
Apr.'. - Então é essa a comparação com a pedra que nos é feita? Tuas palavras me fazem pensar diferente. Não tinha pensado na profundidade da simbologia da pedra. Nossos defeitos são as impurezas brutas das lascas que absorvemos com a maneira de agir, de pensar, das nossas ansiedades e paixões..
MM.'. - Vejo que já estás progredindo e entendendo o sentido desta analogia.
Apr.'. - Seguindo este raciocínio, poderíamos acrescentar muitas outras comparações!
Como exemplo?
Existem pedras ou rochas, que são polidas por fora, mas completamente irregulares por dentro! Levando-nos a pensar que existem pessoas polidas na aparência, mas desprovidas de bons sentimentos e de boas intenções. Ou seja, completamente incultas espiritualmente.
MM.'. - Perfeita a tua visão! Poderíamos avançar nessa linha comparativa e admitir o contrário, ou seja, muitos possuímos a polidez interna encoberta por uma camada de imperfeições. Um exemplo de pedra ou rocha que se encaixa nessa nossa comparação é a ágata, uma pedra semipreciosa completamente disforme e sem atrativo externo, mas no seu interior encerra uma beleza translúcida impressionante, dando-nos a exata dimensão da períeição com que a natureza, no seu infinito capricho, trabalha os seus elementos de forma harmónica. Lembremo-nos, também, do diamante que sai da mina completamente impuro e sem o esplendor da beleza que é realçada com a sua lapidação, alcançando valores incalculáveis.
Apr.'. - Não gostei da comparação do diamante!
MM. '. - Por quê?
Apr.'. - Diamante serve somente para ostentar o seu valor, a sua beleza, o seu brilho e ornamentar outros tipos de jóias. Haveria pessoas com essas características?
MM.'. - E como! Não existem, por acaso, aqueles que vivem somente de aparências? Esplendorosos por fora e completamente translúcidos e transparentes no seu interior. Por outro lado, seguindo o nOSSO raciocínio, temos as pessoas autênticas que realmente são aquilo que aparentam e foram preparadas com esmerada educação, valorizando a sua pureza de espírito, caracterizando o diamante verdadeiro que, quanto mais perfeita a sua lapidação, maior o seu valor; nesse caso, infelizmente, cada vez mais raros entre nós.
E os falsos diamantes? Esses existem em todos os lugares, em todas as estratificações sociais. Por serem falsos, não se consegue agregar valor nem com a mais perfeita lapidação.
Apr.'. - Mestre! Uma pergunta que me ocorre neste momento. Sendo a Maçonaria composta de homens justos e perfeitos, caracterizando os diamantes verdadeiros, existiriam entre eles os "falsos diamantes"? Poderíamos comparar a Maçonaria a uma joalheria que contivesse somente pedras preciosas e verdadeiras?
MM.'. - Meu aprendiz, meu aprendiz! Tens pela frente muito a entender e aprender sobre os homens e, em consequência, sobre os maçons. Por enquanto, pense na Maçonaria como uma imensa pedreira de onde são extraídos blocos de rochas, que se transformam em pedras disformes e brutas com o uso dos instrumentos que aprenderás a manejar. Com o uso desses instrumentos, aprenderás a técnica do desbaste das imperfeições mais brutas das pedras para, posteriormente e em etapas sequentes, serem encaixadas numa grande obra. Essa interminável obra a que todos os Maçons se dedicam a erigir, mas que jamais será tida como concluída. Daí, a conclusão a que se chega é a de que:
Justos temos condições de ser, à medida que entendamos o real significado de justiça e a prática das nossas ações em direção a ela. Mas perfeitos... Talvez encontremos essa joalheria que fazes menção lá no Oriente Eterno, para onde são encaminhadas somente as pedras já prontas e devidamente lapidadas, qual o nosso diamante verdadeiro. Quanto aos refugos, ou seja, aquelas pedras ainda com muitas imperfeições, essas, sim, devem ir para uma outra pedreira e passar novamente por todos os processos de lapidação e acabamento até chegar ao controle de qualidade do Grande Geólogo do Universo, que deverá aquilatar a qualidade da pedra.
Apr.'. - Mestre! Obrigado por este ensinamento da pedra. Chego à conclusão de que não passamos de meros cascalhos perdidos e soltos no mundo, agregando os elementos da natureza até sermos descobertos e trabalhados para fazermos parte de uma grande obra.
MM.'. - É, meu aprendiz! E o reino mineral é o primeiro deles. Dá para perceber o quanto ainda somos primatas e o quanto ainda temos que evoluir. E há quem se julgue perfeito!